quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Por um momento de sonho desenhei, cortei e costurei nossas fantasias, fomos ao mercado com felicidade no peito, suores desciam em meio ao sol e ao tempo abafado, fomos escolher os tecidos, as cores, texturas que ao fim caíram como uma lágrima hoje sobre mim; vendo-as as roupas prontas sem ter pra onde usar.  Mas uso sozinho no quarto, de frente pra mim no espelho, a festa não aconteceu, alias prestes a acontecer você desistiu, desceu correndo as escadarias e ao relento vendo se findar sua silhueta persisti quando não mais há o que fazer. Ficarei com a docilidade. Ficarei e faço questão.

Vários corpos desconhecidos se remexiam entre nós. Algo havia acontecido e não me fora dito uma palavra de aviso. Teu aviso foi um silêncio grotesco e uma fuga inevitável frente à confusão desordenada de tua mente curvilínea.

Minha salvação foi teu irmão compassivo que percebendo tua movimentação atroz me fez companhia em frente à peregrinação numa quadra fechada de desconhecidos.

Não reconheci sua face que se desfigurava pelo escárnio em desprezar quem te prezava ou quem melhor te queria - uma soma, uma regra da vida incumbida de novamente chegar à confirmação de uma humanidade perplexa com sua avidez complexa, convexa, deformada. Sem abrir a boca e sem mover um músculo o seu corpo fulminou certeiro o meu, como se uma caldeira de lava me cobrisse por inteiro.

Tentei tanto, mais tanto ver alguma luz, alguma fresta, greta que deixasse alguma luz ao fim do túnel vim a tona, mas nada veio, a não ser a desfiguração de uma silhueta que um dia vi ponderada imaginando sempiterna, tentei com todas as minhas forças forçar ainda a abertura, mas foi em vão.

Me resta ir. Ir, ir, ir, ri, ri, ri bem alto.


Nenhum comentário:

Postar um comentário