Por um momento de sonho desenhei, cortei e costurei nossas fantasias,
fomos ao mercado com felicidade no peito, suores desciam em meio ao sol e ao
tempo abafado, fomos escolher os tecidos, as cores, texturas que ao fim caíram como
uma lágrima hoje sobre mim; vendo-as as roupas prontas sem ter pra onde usar. Mas uso sozinho no quarto, de frente pra mim
no espelho, a festa não aconteceu, alias prestes a acontecer você desistiu,
desceu correndo as escadarias e ao relento vendo se findar sua silhueta persisti
quando não mais há o que fazer. Ficarei com a docilidade. Ficarei e faço
questão.
Vários corpos desconhecidos se remexiam entre nós. Algo havia acontecido
e não me fora dito uma palavra de aviso. Teu aviso foi um silêncio grotesco e
uma fuga inevitável frente à confusão desordenada de tua mente curvilínea.
Minha salvação foi teu irmão compassivo que percebendo tua movimentação
atroz me fez companhia em frente à peregrinação numa quadra fechada de
desconhecidos.
Não reconheci sua face que se desfigurava pelo escárnio em desprezar quem
te prezava ou quem melhor te queria - uma soma, uma regra da vida incumbida de
novamente chegar à confirmação de uma humanidade perplexa com sua avidez
complexa, convexa, deformada. Sem abrir a boca e sem mover um músculo o seu
corpo fulminou certeiro o meu, como se uma caldeira de lava me cobrisse por
inteiro.
Tentei tanto, mais tanto ver alguma luz, alguma fresta, greta que
deixasse alguma luz ao fim do túnel vim a tona, mas nada veio, a não ser a
desfiguração de uma silhueta que um dia vi ponderada imaginando sempiterna,
tentei com todas as minhas forças forçar ainda a abertura, mas foi em vão.
Me resta ir. Ir, ir, ir, ri, ri, ri bem alto.
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