segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014


A apneia se deu mesmo antes que dormisse, uma noite de pesadelos; ainda pela manha Ramon não souber transmutar a falta de oxigênio em distração pelo sol que vinha da janela ou som das crianças que brincavam na rua, o café quente junto com o leite foram postos na xícara e bebidos devagar, tossiu algumas vezes enquanto o gato Míqueias veio sem pressa novamente em suas pernas querendo um afago. Os passos não foram dados com demasia, mas a amplidão era vivida e lânguida, sem que soubesse em qual instante se daria a repetição. Por um momento teve certeza de que tudo se resolveria e até teve orgulho de si diante das fotos  na praia com Tiago, Ramon olhou-as sem se emocionar. Dez minutos depois estava chorando, se controlando para não correr ou para não fazer algum contato indesejado, mas era maior. As flores do jardim eram brancas quando passou e suas pétalas jogaram perfume de drama da noite por volta das dezenove horas, as narinas sentiam e lembravam do espectro fílmico ou fotografia de uma paralisia elétrica ou de um avanço imponente já vivido. Uma luta barroca desbravada desde um tempo que nunca quis saber, a importância se dava no ponteiro do norte e no percurso contagiante das horas entregue a reconstituição; a apneia se deu ao fim quando pela noite esbarra seu olhar num outro que passava em algum corredor de um prédio, foi fácil iniciar a conversa, afinal era isso que ele desejava, era isso que Ramon queria em meio ao vácuo fúngico deixado por Tiago. Os dois estavam machucados e carentes, descobriu depois. Rodrigo apareceu lhe perguntando qualquer coisa, Raomon respondeu e entedeu que queria papear. Os dois estavam espertos e cabreiros, ambos com movimentos meeiros, o erguer das mãos eram pra sentir o que era sólido se espremer. Eventualmente Ramon sentia um aço acariciar sua ferida e se segurava para não gemer, se continha na presença do novo amigo que inicialmente não percebeu e nem quis fazer julgamento caso houvesse alguma coisa, logo tinha ficado contente em ter tido um fim de noite boa também ao lado daquele homem num jeans azul, com blusa branca, relógio da cor de sangue assim como seus olhos que marejavam de vezes em quando algum líquido invisível manchando alguma pureza latente.

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