domingo, 19 de maio de 2013

Não farei mais perguntas que entope, juro, não mais dúvidas que respondem stop, não mais palrarias em mesas de bares etílicas, não mais quereres, carências, mendigações bestas aos bestas, a feras que feri cravando o punhal, dolorido ardil, golpe das indagações, mas já chega, chega de tanto falatório, e tanta explicação, não mais quero saber, não mesmo, juro que não quero saber sobre se isso acontece e como acontece e por que acontece, porque eu decidi perder a curiosidade, agoniar-se nunca mais, porque perder-se no sobre, no como e nos porquês e nunca mais se achar soa nobre, achar-se para quê? se se perder desobstrui.
Por anda o sol? No horizonte cinza nuvens os pingos de chuva veem, ouço dentro do quarto sobre a telha os impactos, desmanche. Dentro do quarto os sinto como um batismo, como uma ode em voz de Iansã, deificados de frieza e adultério, decai vil, decaem nus. Ninguém os poderá proibir. Cair, cair sobre as cabeças, sobre as calçadas de poeira e pegadas peregrinas, sobre, sob, à sombra das nuvens, sem deixar que escapem do sobressalto, do ímpeto e não mais aguenta, cair se faz, se é a lei, que sol dá resquícios de luz, dá sinais de vida, de que voltara.

domingo, 5 de maio de 2013

“mostre-me como é a vida extra, aquém e além Terra.”

As horas que antecedem o momento são pingos de paz mudos e lerdos caindo pro ralo cujo ato poderia ser brilhante e incandescente, mas cego zumbindo em hipnose correm de frente ao fogo que se esvai lentamente nas vinte e quatro horas profundas dos dias mesmo em verão frias de luz, frias que são minhas mãos narcóticas sem toques de dor, torpecidas de nabucodonosor, que poderia ser o rei, que poderia ser em Babilônia o gargalo aberto, copos, taças cheias de movimentos e vermelhidão negrejando pela pouca luz, luz de tocha, luz da luz, luz da lua e de pirilampos antiquíssimos, estrelas ancestrais, primevas, pois o rostos e a boca abertos a cada gole, beijo molhando o pensamento com as veias nos músculos caídos, no rosto virado pro céu fazia movimentos com os braços e dedos pra luzes com iridescências se fazerem a cada esvoaçar de vento que batia, de poros e poeiras esbarradas no ar, ganhando sublimações e vivacidades em pleno breu, em pleno estômago vazio, o soco seco saindo cosmopolita achava a gordura abdominal impotente e mole. As horas eram um milagre perpetuo pras ideias auto-aniquiladoras que vem e vai, pêndulo, relógio. A força vem, a certeza vem, a poesia que se findaria por um sussurro se cristaliza límpida, tênue, lótus no meio do quarto desarrumado, gavetas e janelas fechadas, com luz das gretas e barulho de sirene vem, cheiro de escapamento, desejo de sorvete vem. Vem a frase “tire-me daqui,” vem o “quero pular,” vem o “mostre-me como é a vida extra, aquém e além Terra.”