sábado, 30 de novembro de 2013

Grandiloquente jactância
Encobrindo hercúleo medo

Medo Persa 
guarda nas laminas d'água
as espadas dos cruzados
louros em sangue escarlate
do tempo, assim como teu rosto
um súplico, um sopro em sumo
                                                          é tu estirão o mediterrâneo breu
                                                            nas costas do Marrocos,
                                                  nas pedras onde guarda as cores
                                                           e atos do teu rosto cumplice 
onde banha o litoral turco, onde
                                                       Sultões tomaram vinho e te olharam
pela tarde depois das batalhas
empunhando e desempunhando
o fio execrável dos punhais
como um pendulo certeiro e mediúnico
bebendo o tempo barbitúrico
de um por do sol escarlate
..
Duas da tarde e nada
Folhas laminares nos ares
Varas e bambus de pé frêmitos
O rosto pra fora da piscina sangue
O rosto como um lago mediterrânico
Em um suplico de absoluto silencio
Um grito guardado, dois, três de me salve
Punhos fechados, pés pernas peito em cãibra
O tigre chega manso e com sede bebe,
Se espreguiça naquele momento
Se suja de areia e lambe uma das patas
Se uma vida lhe fosse oferecida
Sacrifício, jorro de sangue
Para se chegar ao espaço sideral
.
São 14h34min, me sinto como se tivesse mergulhado em varas, bambus, folhas laminares cortando meus braços, minhas pernas e pés. A face, a única parte que sobra pra fora da piscina vermelha permanece como um lago mediterrânico espraiando o suplico em absoluto silêncio, com boca fechada, a língua se move, quer gritar mais uma vez e os olhos arregalados observam quando o tigre chega lerdo e deita-se, bebe um pouco do liquido e pegando sol na praia de areia branquinha se deita, se espreguiça despreocupado, poderiamos tocar o espaço sideral, eu poderia servi de alimento pra ele ali, bem perto de mim, morrer na boca de uma besta ferra, dentes cravados na garganta, poderia jorrar uma fonte de sangue, de água, juventude esvaindo-se sem que eu posso esquecer por um minuto se quer com tantos espelhos ao redor.
carta para Florbela Espanca


Ninguém quer um ator ruim
Se veio pro mundo seja bom
Escute: 
finja bem que é feliz
Eles acreditarão
Finja ruim
Eles acreditarão do mesmo jeito
carta para Florbela Espanca

Estou indo mal em minha atuação
Não convenço mais sobre minha
Felicidade

Estou mal como ator
Finjo que estou bem
E ninguém acredita

Ninguém quer saber disso
Fogem disso
Sentem se verem isso


                                                                                        
ela estar na ponta, bem na ponta da língua, mas não cai, palavra, vocábulo, como ela é teimosa, mas tem medo de morrer, que angustia doida ela sente, que medo de altura, disse para si mesma. o músculo na boca balançou, dançou, lambeu e nada. em vão, continuou em equilíbrio, sentiu junto com as papilas o doce, o azedo, o salgado. e depois, bem tranquila reparou e respirou. viu que era preciso finalmente ir, ir, ir. se jogou em pleno breu e no papel desenhou-se em tinta preta. lá se envaideceu nos espelhos de iris de alguém, reparou que era bom receber tantos olhares, calor de mãos, luzes de vela, de lâmpadas, nova fonte, sempre era extraída por alguém, viajou continentes, seguia rumos diversos para outras pontas de línguas, em novos pulos, papeis, abismos brancos, breus.
fonte das palavras
a vida cai da língua
num abismo chamado papel

terça-feira, 5 de novembro de 2013

N maiúsculo

a tragedia do dia é o não do mundo
o não que o mundo te dá doi,
assim também como ultrapassa-lo 
momentaneamente
porque logo logo lhe será tirado 
o algo completamente perecível, apodrecível,
 logo morrerá, mortal, 
logo a tragedia da vida se repetirá
sempre irremediável, 
um afiado bisturi que passará
na face dirá não, 
uma prego que atravessou a palma, dirá não
um chicote amassando carnes
uma esfera metálica ultrapassando carnes
a instabilidade do plutônios
a poeira das estrelas
o sol em demasia,
uma mão, a do tempo
dirá não
aceite
açoite
aço
asco
osso
oco  
uma carta com letra esquálida
uma porta de madeira
um abismo ácido 
a piscina seca e sete andares do térreo
uma caixa de rivotril não resolve
capsulas de prozac muito menos
copos com uísque e gelo
 não fará a boca dizer
não dirá nada
nada
não