Os dois tinham deixado largado algum
elo pelo caminho, era necessário a mãos dos dois para que o tesouro fosse
levado, um deles, o que ainda afirmava na vida o acalento preferia acreditar
que se modificavam, que era uma situação completamente normal aquela mudança
vindo a tona - algo que ambos com prudência teriam de verificar e se
sobressair, esperava forças do seu parceiro, tinha grandiosa esperança,
respirava calmamente, se excedia às vezes, mas por algum motivo conseguia ir
além de sua condição animal. Num momento contemplava a rostidade do outro em
oração, bendizia e agradecia ao Cosmo, noutro parecia que o lânguido
estava entregue ao sentimento de liberdade ou se dava corrente e fácil à maré
de um mar que empurrava para a profundidade negrejante de um tempo voluptuoso,
com paredes de espelhos, sorrisos e gargalhadas falsas, algum som delirante ou
canto esgarçado que lhe chamava a atenção para que se perdesse de si, tratava-
se de um caminho de horror para ambos. Um tinha mais forças que o outro. Um
tinha mais vontade, mais empenho que o outro. O outro se acostumou com o que
lhe ajudava, quero dizer que o mais lânguido distraia-se fácil com alguma luz
de onda entorpecida de frivolidade, algum movimento oco que vinha em sua
direção, lhe enfraquecendo o punho, era necessária força para carregar a alça e
o que amava fazia com prazer o ato do lânguido. Era um esforço mais que humano
carregar meio sozinho tanto peso, mas fazia, porque... porque amava,
literalmente. Quantas renegações, modificações, quantas vezes o mais forte
deixou pra lá uma frase que corta a carne ou não cobrou o silêncio como
resposta (que sufoca) ou ainda um se esqueceu de um olhar
vago/obliquo/desdenhador que dói mais que um soco no queixo, um nocaute, sangue
que jorra, falta de consciência, tudo isso apenas por amor, “amor para além da
razão.” Passaram-se os dias e o que era forte enfraquece, sente dores e
mais dores por todo o corpo. Uma angustia na alma lhe toma o cerne e no cume
distrai-se com o latejo da uma ferida qualquer. Sente que esta prestes a
se estilhaçar, partículas soltas no ar, sente que está bem próximo de soltar
sua alça. Não aguenta mais andar só. Ele sofre diariamente. Ele não quer, mas
seu corpo não aguenta. Até onde tiver forças persistirá. O outro vê aquilo e
finge que não vê, não se importa ou se importa muito pouco. O mais forte
percebe-se idiota finalmente e está quase se entregando ao fracasso,
quase se deixando ir livre, não foi ainda porque é para além da razão o
sentimento, é transcendente, decide esperar só mais um pouco depois de um
minuto, só mais um pouco, só mais um pouco.
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