Quis mais viver quando
uma folha da copa frondosa cai seca com o peso de mundo sobre as costas. Tudo
era tão certo. A folha suave desceu na desordem de uma manada. Todas as coisas estavam no seu devido e estudado lugar por séculos.
Havia uma casa, uma rua, um lapso no tempo do relógio do pulso azul latejando que
empurravam todo o sangue para uma tarde quentinha - sentado em cadeiras de bambu com os
pés descalços olhando o céu também azul, prestes a escurecer, na cozinha um bolo de
batata recém saído do forno que não quis comer, ainda sobre a mesa, intocável, perfumado,
excitando os narizes desatentos que respiravam sem perceber desconforto, arfado aroma, mas quão egoísta é, porque tão feliz era e tão desesperador era. Queria ir, ir ir. Só
via um caminho. Estava prestes a correr, estava ouvido o convite que vinha pelo
vento dos hemisférios. Era doce e queria azedo. Era liso, era macio. Pulou e caiu na areia, sentou-se em seguida num balção, bebeu em vários copos logo a noite, respirou em quartos fechados com mais de três, intoxicou-se comendo morfo, lambeu algas verdes no bebedouro, cortou madeiras pra fogueiras, pôs folhas pesada pra queimar
um beijo labareda lambendo os pelos da perna
boca a boca para um salvamento dos encostrados peito a peito
a língua ignição faz faísca de pedras
um choque de mandíbulas vermelho helicoidal
por cada pelo queimado, por cada poro aberto exalando suor,
por cada irrigação feroz, por cada tremor de pele terrena
trazia a margem da cama redonda, lagoa, a subida do tom,
ou gemido de um tigre subindo sobre a fêmea tigre no cio
o pelo em chamas de lambidas fogo
salvação diária de um tigre de bengala 20cm
beijo centelha elétrica de um gemido terreno
choque e irrigação do peito a peito
Queria ir montado nele, sobre a pele dele em movimento
sobre o couro macio vivo, não estagnado no chão de granito
arfando ares, imáculos adentrando virgens na selva imbele
sem olhara para traz, sem correr risco de virar sal
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