segunda-feira, 10 de março de 2014

Quis mais viver quando uma folha da copa frondosa cai seca com o peso de mundo sobre as costas. Tudo era tão certo. A folha suave desceu na desordem de uma manada. Todas as coisas estavam no seu devido e estudado lugar por séculos. Havia uma casa, uma rua, um lapso no tempo do relógio do pulso azul latejando que empurravam todo o sangue para uma tarde quentinha - sentado em cadeiras de bambu com os pés descalços olhando o céu também azul, prestes a escurecer, na cozinha um bolo de batata recém saído do forno que não quis comer, ainda sobre a mesa, intocável, perfumado, excitando os narizes desatentos que respiravam sem perceber desconforto, arfado aroma, mas quão egoísta é, porque tão feliz era e tão desesperador era. Queria ir, ir ir. Só via um caminho. Estava prestes a correr, estava ouvido o convite que vinha pelo vento dos hemisférios. Era doce e queria azedo. Era liso, era macio. Pulou e caiu na areia, sentou-se em seguida num balção, bebeu em vários copos logo a noite, respirou em quartos fechados com mais de três, intoxicou-se comendo morfo, lambeu algas verdes no bebedouro, cortou madeiras pra fogueiras, pôs folhas pesada pra queimar

um beijo labareda lambendo os pelos da perna
boca a boca para um salvamento dos encostrados peito a peito
a língua ignição faz faísca de pedras 
um choque de mandíbulas vermelho helicoidal 

por cada pelo queimado, por cada poro aberto exalando suor,
por cada irrigação feroz, por cada tremor de pele terrena
trazia a margem da cama redonda, lagoa, a subida do tom,
ou gemido de um tigre subindo sobre a fêmea tigre no cio

o pelo em chamas de lambidas fogo
salvação diária de um tigre de bengala 20cm
beijo centelha elétrica de um gemido terreno
choque e irrigação do peito a peito

Queria ir montado nele, sobre a pele dele em movimento
sobre o couro macio vivo, não estagnado no chão de granito
arfando ares, imáculos adentrando virgens na selva imbele
sem olhara para traz, sem correr risco de virar sal

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